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AGRICULTURA SINTRÓPICA SEGUNDO ERNST GÖTSCH
Daniela Ghringhello Sakamoto & José Fernando dos Santos Rebello
(Apresentação de Ernst Götsch abaixo)
Prefácio dos autores
Então ouvimos…
Conhecemos Ernst Götsch pela primeira vez em 1995, quando ainda éramos estudantes de agronomia. A sua palestra na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ-USP) foi tão impactante que mudou o rumo das nossas vidas.
O seu conhecimento sobre como a natureza funciona é tão profundo que, ainda hoje, sempre que o encontramos, sentimos que ainda estamos na primeira aula. Este livro, baseado inteiramente nos ensinamentos de Ernst Götsch, foi escrito por pessoas apaixonadas pela natureza, apaixonadas pelo planeta Terra, pessoas que acreditam que vale a pena dar o melhor de si para cuidar dele. Há uma necessidade urgente de disseminar um sistema de produção que, ao mesmo tempo que produz toneladas de alimentos saudáveis e saborosos, recupere áreas degradadas, devolva água às nascentes perdidas e traga de volta as nossas florestas, o que nos levou a embarcar neste empreendimento. No entanto, o livro está longe de ser um guia definitivo sobre agricultura sintrópica, pois o conhecimento sobre o tema é tão dinâmico quanto os agroecossistemas criados por Ernst Götsch. Entendemos que o papel não deve cristalizar os conceitos, já que, a cada dia, o seu criador refina os métodos e a interpretação de como a natureza funciona.
O conhecimento, assim como a vida, carrega essa impermanência, por isso devemos estar sempre com a mente aberta e desarmada para entender o movimento constante de ambos. Ouvir verdadeiramente exige uma concentração enorme, algo que, confessamos, nem sempre conseguimos atingir. Se acertámos, o crédito vai sem dúvida para Ernst Götsch; se errámos na interpretação dos conceitos, foi assim que os compreendemos. Todas as imagens, gráficos e desenhos deste livro são cópias dos desenhos originais propostos por Ernst Götsch em muitas das aulas que assistimos nos últimos 27 anos, e que estão em constante evolução, numa melhoria contínua na arte de colher o Sol.
Se a humanidade conseguir criar sistemas de produção de alimentos verdadeiramente sustentáveis, superando os obstáculos criados por ela própria, não temos dúvida de que esse caminho, em algum momento, encontrará a agricultura sintrópica criada por Ernst Götsch.
Apresentação de Ernst Götsch
Este livro quer caminhar ao lado do leitor nesta jornada, contando onde estamos e onde chegámos na interpretação de uma obra muito maior, infinita nas suas facetas, na sua diversidade, dimensão e profundidade: o livro da vida no nosso planeta.
Ao tentarmos ler este magnífico livro, cada vez que nos alegramos, certos de que compreendemos o conteúdo de um pequeno parágrafo, surgem mais perguntas e florescem, e o que pensávamos saber fica cada vez menor diante do que ainda não sabemos. Mas é precisamente isso que permite que um novo horizonte se revele a pouco e pouco, levando-nos muito além do que esperávamos quando começámos a leitura. Então, descobrimos que a chave do conhecimento não pode residir na intenção de manipular ou comandar o universo. E, no entanto, só percebemos isso depois de termos feito tantas tentativas de enganar o sistema da vida e, após todas elas, num curto espaço de tempo, provarem ser um erro, se não uma catástrofe. Afinal, o que conseguimos com setenta anos da chamada Revolução Verde foi levar os ecossistemas, um após o outro, à beira do colapso, exterminando pelo menos uma espécie a cada dois minutos. Então, perguntamo-nos: será que cometemos tantos erros porque abordámos o tema da maneira errada? Seguindo a conhecida máxima de Descartes, cogito, ergo sum (“Penso, logo existo”), acreditámos, nos últimos séculos, estar acima da natureza, definindo-nos, os seres humanos, como os únicos seres inteligentes.
Desta crença de que somos superiores e, portanto, separados do mundo natural, surge o nosso desejo de dominá-lo – um caminho que, como sabemos cada vez melhor, é o errado. É hora de mudar radicalmente essa conceção, de expandir criticamente a máxima de Descartes em direção a um ergo somos, que nos permita considerar-nos parte de um sistema inteligente, no qual todos os seres que o compõem possuem essa mesma característica, todos equipados e capazes de se comunicarem entre si, formando, coletivamente, um grande e único macro-organismo. Nele, não prevalece o princípio da “astúcia”, em que cada um deve agarrar o máximo possível para si; nele, não prevalece a rivalidade e a competição fria, simplesmente porque cada órgão e cada célula desse macro-organismo sabe que isso seria o caminho para o seu próprio suicídio e para a morte de todos. Portanto, para que o todo prospere, cada um de nós precisa de abraçar a questão que parece subjacente às interações que têm ocorrido neste planeta desde antes de existirmos: como posso interagir com os outros membros de forma que a minha participação se torne um evento benéfico para todos? O nosso mundo cultural/filosófico, no entanto, impõe todo o tipo de barreiras a quem ousa abandonar a visão antropocêntrica, que é claramente obsoleta e até um pouco ridícula, e em vez disso começar a adotar uma perspetiva biofílica, ou seja, de amizade e amor pela natureza.
No entanto, a partir do momento em que descemos do “pedestal do inteligente”, artificialmente erguido por nós próprios, removeremos o maior obstáculo que criámos para aprender, entender e falar a linguagem comum a todos os seres. Tudo ficará mais fácil: perceberemos que não devemos dividir o mundo em “bem e mal”. Cada espécie que existe aqui cumpre a sua função, atuando no seu “departamento” para o bem comum de todos, ou seja, para a otimização do funcionamento dos processos de vida e do macro-organismo Terra.
Espero que este livro leve os seus leitores a tentar aceder à verdadeira internet, a rede comum que todos os seres – com exceção da grande maioria da nossa espécie – usam para se comunicar. Esta rede é de livre acesso, não é censurada, e funciona pelo simples uso dos sentidos que recebemos ao nascer e que temos em comum com todos os outros membros do globo. Se este pequeno livro de Daniela Sakamoto e José Fernando Rebello conseguir abrir pelo menos uma janela para vislumbrar tudo isso, o seu imenso trabalho será recompensado.
Ernst Götsch – Fazenda Olhos D’Água, Primavera de 2020.
José Fernando dos Santos Rebello – Biólogo e engenheiro agrónomo, conheceu Ernst Götsch em 1995 enquanto estudava agronomia na Universidade de São Paulo. Ernst tinha sido convidado para dar uma palestra na sua universidade. Desde então, José Fernando tem seguido Ernst, tentando compreender a agricultura sintrópica tanto na teoria como na prática.
Em 2002, começou a trabalhar com o IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) na região de Altamira, Pará, em plena selva amazónica, um local ideal para plantar florestas. Em 2005, mudou-se para o Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, localizado em Alto Paraíso, Goiás, onde Ernst lecionava cursos regulares na Oca Brasil, uma ONG local. Em 2017, juntamente com Daniela Sakamoto, cofundou o Centro de Pesquisa em Agricultura Sintrópica (CEPEAS), que tem como objetivo apoiar Ernst Götsch no desenvolvimento de modelos para a agricultura sintrópica mecanizada e na criação de uma pedagogia acessível a todos os agricultores do planeta.
Daniela Ghiringhello Sakamoto – Engenheira agrónoma e educadora formada em pedagogia Waldorf. Trabalhou durante vários anos como professora do ensino básico e cofundou a Escola Vila Verde, uma escola premiada no Brasil e na Inglaterra pelo seu foco nas questões ambientais. Coordenou o projeto “Investigando a Nossa Natureza”, que visa reconectar crianças e adolescentes com o mundo natural. Desde 2017, trabalha no CEPEAS, o Centro de Pesquisa em Agricultura Sintrópica, que cofundou com José Fernando Rebello.